sexta-feira, 27 de junho de 2014

100 Year Anniversary of the First World War

100 Year Anniversary of the First World War
Numerous exhibitions and events in Berlin
Berlin, 27th June 2014 Tomorrow is the 100th anniversary of the assassination of Franz Ferdinand. This was the trigger for the First World War. For Berlin, this important date is an opportunity to confront the past. Throughout city, there are numerous cultural offerings on the First World War.
Commemorative concert in the Cathedral and exhibition in the German Historical Museum
The Berlin Cathedral is organising a commemorative concert for the First World War on the 28th June 2014, at 8pm.  Soloists, Berlin choirs and the New Prussian Philharmonic and the Filharmonia Szczecin interpret "War Requiem" by Benjamin Britten. For more information and tickets, please visit
visitBerlin.de.
The exhibition "1914-1918 Der Erste Weltkrieg" ("1914-1918 The First World War") is on at the German Historical Museum until 30th November 2014.  The only large German exhibition on the events of the war is focusing on the global scale of the First World War and has approximately 500 exhibits. The exhibition is accompanied by various additional events with panel discussions and presentations. The armoury cinema is also showing documentaries and feature films on the First World War. More information is available here.
 © Deutsches Historisches Museum


The exhibition "Mahnung und Verlockung - Die Kriegsbildwelten von Käthe Kollwitz und Kata Legrady" ("Warning and Allure - the war imagery of Käthe Kollwitz and Kata Legrady") is on at the Käthe-Kollwitz Museum Berlin from 30th June to 9th November 2014. Käthe Kollwitz was personally affected by the First World War as her son Peter was killed in 1914. The artist's work focuses on the grievances of the war again and again. Further information is available here.
 © Deutsches Historisches Museum
More Events
The play "Gefährten" ("War Horse") tells the story of am English boy and his horse in the middle of the First World War. The Theater des Westens is conducting a commemorative performance on 28th June 2014, at 7.30pm. The play runs until the 28th September 2014. More on „Gefährten“ ("War Horse") here.
Multimedia commemoration: Video bus tours on the First World War are taking place on 28th June at 1.30 pm and from 1st to 3rd August. The two-hour long tour special tours start on "Unter den Linden" boulevard and pass Berlin buildings and squares that were important in the First World War. An explanatory video will accompany the tour. Information is available at videobustour.de.
Many other Berlin establishments are also commemorating the First World War this year. An overview of all events can be found at visitBerlin.de.
visitBerlin Press Officer contact details:
Katharina Dreger
Tel.: +49 (0)30 26 47 48 – 956

Christian Tänzler
Tel.: +49 (0)30 26 47 48 – 912

segunda-feira, 23 de junho de 2014

Cadernos de Viagem, nº 102, Pululukwa Resort & Spa

Placas giratórias da Lufthansa com altos níveis de pontualidade

As placas giratórias do Grupo Lufthansa atingiram as notas mais altas para a pontualidade entre as placas giratórias europeias no primeiro trimestre de 2014. Comparando com o mesmo período do ano passado, os valores das placas giratórias em Frankfurt, Munique, Viena e Zurique melhoraram em pelo menos 10 pontos percentuais como mostram as avaliações da Associação Europeia de Companhias Aéreas (Association of European Airlines / AEA).

Munique ficou em primeiro lugar com 93,3 por cento de todos voos que partiram da placa giratória da Lufthansa no sul da Alemanha com menos de 15 minutos de diferença em relação ao horário. Em março, este número subiu para 94.5 por cento, marcando a melhor pontualidade alguma vez registada num mês em Munique.


Viena ficou em Segundo lugar nas estatísticas da AEA, com 92,3 por cento, seguido bem perto por Frankfurt com 92,2 por cento. A placa giratória de Zurique vem em terceiro lugar para a pontualidade dos “15 minutos”, com 90 por cento no primeiro trimestre.

Estes números são particularmente positivos tendo em conta a proibição de voos noturnos em Frankfurt e as obras para o satélite do terminal no aeroporto de Munique, um dos maiores locais de obras na Europa.


domingo, 22 de junho de 2014

Número 101 do CADERNO DE VIAGENS, dedicado ao VIII RAID do Kwanza Sul

13º dia do VIII Raid do Kwanza Sul: Waku Kungo – Luanda (388 km)

Último dia do RAID. Quase 400 km até Luanda, 20 dos quais numa estrada péssima, pior que muitas picadas e ainda por cima com muito trânsito: o troço entre Dondo e Kambambe.
No entanto, parámos ainda a 60 km de Waka Kungo, na vila de Kibala, onde eexiste uma linda fortaleza portuguesa (em ruínas,

para deixar mais uns quanto donativos e para visitar o internato da missão católica Nossa Swenhora das Dores, apoiada pela Zungueiros Solidários de Angola, uma  ONG fundada por profissionais da Comunicação Social que dedicam seu tempo a levar Carinho, Amor e Solidariedade a outros!
Segundo Armindo Laureano, o coordenador-geral desta ONG,  “tudo começou em Setembro de 2009, quando um grupo de colegas da TV Zimbo decidiu comemorar o dia Herói Nacional (17 de Setembro), organizando uma viagem de autocarro para o Lobito (Benguela). Na altura tratou-se apenas de uma viagem, um passeio, mas um ano depois, em Setembro de 2010, na 2ª edição, Kapanda (Malange) foi o destino escolhido: um passeio turístico de colegas e também uma visita à Barragem Hidroélectica de Kapanda, numa actividade em que contaram com o total apoio do GAMEK. Foi o início das acções de solidariedade, a que deram o nome de  "Zungas da Solidariedade": inseridas no Projecto Angola Minha, estas zungas têm como objectivo levar carinho, amor e solidariedade às populações mais carenciadas de Angola. Para o efeito, o grupo tem realizado actividades filantrópicas, recreativas, culturais, sociais e de preservação do meio ambiente”.
Por volta das 16h, chegámos à selva urbana que é Luanda, já com saudades das paisagens desérticas do Namibe.
Após a entrega dos jipes, fomos para o hotel esperar pela hora da partida do avião e ver o jogo do Mundial entre Portugal e a Alemanha.

O Raid chegara ao fim, mas o que vivenciámos nestes 11 dias ficará para sempre nas nossas memórias!

12º dia do VIII Raid do Kwanza Sul: Huambo – Waku Kungo (300 km)

Logo de manhã, voltámos ao “local do crime”, ou seja ao Bairro de Santo António. E agora com luz, foi fácil encontrar. O bairro está a ser demolido. As vivendas pequenas já não existem, mantém-se de pé, em ruínas, somente as casas comuns de dois andares e as paragens dos autocarros. No entanto, sempre que mostrava a fotografia, todos se lembravam da casinha com a planta do sisal à frente – uma visita que muito me emocionou. 
Quando nos juntámos de novo à caravana, fomos em grupo até um jardim onde está a estátua do general Norton de Matos, o fundador da cidade. Esta paragem tinha todo o interesse não só histórico, mas também pessoal: no grupo estava o Pedro Norton de Matos, bisneto do general.
Durante a construção da linha da Companhia do Caminho de Ferro de Benguela, concebido para drenar os minérios da região do Catanga para a costa do Atlântico, e estando o acampamento do empreiteiro Pauling estabelecido cerca do km 370, começou a ser aí recebida correspondência, vinda de Inglaterra, endereçada a "Pauling Town - Angola". Ao chegar a Luanda como governador geral da colónia de Angola, o General Norton de Matos não gostou desta história deu ordems aos Correios para devolverem toda a correspondência que assim viesse endereçada com a indicação de "destino desconhecido", para assim marcar bem o domínio português na Província do Huambo.
Na altura não havia nenhuma povoação na região. Norton de Matos procurou nos mapas de então, qualquer coisa que lhe sugerisse um nome; só encontrou a referência a um pequeno forte, o Forte do Huambo, criado por Portaria nº 431,de 20/09/1903, onde se tinham praticado alguns feitos heróicos. Essa representação foi o bastante para lhe indicar a magnífica posição geográfica, política económica e militar do futuro Centro Ferroviário, a que deu o nome de Cidade do Huambo, por Diploma Legislativo de 8 de Agosto de 1912. Imediatamente proibiu a construção de casas de adobe, pau-a-pique ou outros materiais semelhantes na cidade. Em 1928, o então governador Vicente Ferreira mudou-lhe o nome para Nova Lisboa, que manteve até 1975, com a intenção de aí criar a nova capital de Angola, um plano que nunca passou do papel.
(Foto antiga)
O General Norton de Matos foi homenageado em 1962 com uma estátua, financiada por subscrição pública, obra do arquiteto português Euclides Vaz, que rodeou das quatro virtudes: Prudência, Justiça, Fortaleza e Temperança (que alguém pensou tratarem-se das quatro mulheres do general….). Com a independência, as estátuas foram retiradas da rotunda do Palácio do Governador onde estavam, tendo sido colocadas numa rua lateral, juntamente com a estátua de Vicente Ferreira. Todas estão cravejadas de balas mas resistiram à guerra.
Tendo homenageado o fundador da cidade, o grupo quis também fazer uma paragem junto da estátua de Agostinho Neto, o fundador da nação angolana, colocada no local onde costumava estar a estátua do general Norton de Matos.
È complicado uma caravana de 17 jipes deslocar-se dentro das localidades. Perderam-se uns quantos jipes e quando um grupo tentava chegar à rotunda meteu-se em contramão por uma rua. Azar dos azares, na rotunda estava a passar uma carrinha da Polícia, que logo para. Os soldados saltam ágeis da caixa aberta, prontos a intervir. O 1º carro da caravana lá explica o que se passa. Os soldados foram compreensíveis, param o trânsito e deixam entrar a caravana na rotunda.

Depois de vermos Agostinho Neto sentado a escrever, partimos para Waku Kungo.  Apesar de o antigo colonato da Cela ser o nosso destino final para este dia, tivemos 300 km de estrada alcatroada mas cheia de buracos, alguns dos quais verdadeiras crateras. A stressante viagem foi recompensada. Após uns 30 km de picada depois de Waku Kungo e passando por um kimbo, onde se ofereceram algumas coisas ao soba, chegámos às margens do rio Keve onde nos esperava um lauto almoço à “Out of Africa” e uma série de hipopótamos que aí vivem. Foi um grande espetáculo ver estes grandes animais nadar, mergulhar, respirar e tentar sair da água, ali mesmo a alguns metros de nós.

11º dia do VIII Raid do Kwanza Sul: Lubango – Huambo (405 km)

Tantos planos para uma manhã só! É claro que o tempo não chegou e só saímos do Lubango por volta das 15h.
Depois do belíssimo e relaxado pequeno-almoço no Pululukwa Resort, partimos para a Tundavala, onde foi emocionante voltar 40 anos e 2 meses depois. É impressionante esta fenda natural, muitíssimo profunda e estreitíssima no fundo. Trata-se de um enorme abismo de cerca de 1200 m situado na Serra da Leba. É nos penhascos da Tundavala que termina o Planalto Central


de Angola. Aqui o planalto excede 2200 metros de altitude e cai abruptamente para cerca de 1000 metros de altitude, provocando um desnível deslumbrante com fendas colossais na montanha. A paisagem que se tem deste monumento natural com muitos milhões de anos é colossal. São muitas as histórias que correm à volta da Tundavala. Que foi usada durante a Guerra Colonial para atirar angolanos que lutavam pela independência e, durante a Guerra Civil, para atirar elementos da fação oposta, que existem enterradas na terra cápsulas de bala de kalashnikov, usadas em fuzilamentos sumários, e sei lá que mais. Uma maravilha desta natureza liberta a imaginação de todos que por ali passam.

No caminho para o Cristo Rei, paragem rápida no “Chalet”, um café a 3kms da fábrica da Coca-Cola com um cenário relaxante e onde se podem comer produtos lácteos da “Queijaria Serra N’Tandavala”: queijo curado, queijo fresco, iogurte natural, natas, manteiga e leite fresco pasteurizado.
Já durante o tempo colonial, Sá da Bandeira era conhecida pelas suas indústrias lácteas que produziam belíssimo leite, ótimo queijo e fantástico iogurte.
Foi então que o Katana sugeriu que fôssemos à Senhora do Monte, um local de romaria popular no tempo colonial e que ainda hoje junta a população em agosto, nas festas da cidade.
No cimo do monte há uma capelinha incapaz de comportar todos os fiéis. Daí ter sido construído um templo ao ar livre num patamar mais abaixo.
No monte fronteiriço está imponente o Cristo Rei, de braço abertos a proteger a cidade. Terá sido por isso que a cidade foi poupada aos martírios da guerra? Em abril deste ano, a  ministra da Cultura de Angola, Rosa Cruz e Silva anunciou que a estátua, com 14 metros de altura e considerada património nacional, vai sofrer obras de restauro. Além da restauração da estátua, cujo nariz e os dedos da mão direita merecem maior atenção, as autoridades angolanas pretendem também reabilitar todo o espaço envolto do edifício e a própria localidade.
O monumento, mandado construir em 1957 por colonizadores da Ilha da Madeira é praticamente uma réplica do Cristo Rei de Almada em Portugal. Ao contrário das outras três estátuas do Cristo em países de língua portuguesa (Rio de Janeiro, Almada e Díli), a construção do Cristo Rei de Lubango não teve cunho religioso. A ideia nasceu do engenheiro português Carlos Sardinha que viu nas montanhas um cenário ideal para construção do monumento. Após de terminada a obra, o monumento passou a ser um ponto privilegiado dos religiosos.
Com tantas paragens, quando chegámos à loja Mabílio de Albuquerque onde pretendíamos comprar panos, já estava fechada. Seguimos para a catedral, onde decorria a consagração de mais um sacerdote.
O almoço na pastelaria Arte Doce fez atrasar muito a partida. A maior parte da estrada era alcatroada (mas com grandes buracos de quando em quando), mas os últimos 92 km, entre Caconda e Cuíma, eram de picada – que iríamos fazer à noite com valas, burcas, pessoas, animais, motoretas. Ainda por cima, um carro partiu o amortecedor e tudo se atrasou.  
Chegámos ao Huambo às 21h30, ainda a tempo de jantarmos um delicioso calulu de carne seca, regado por um vinho tinto Chaminé.

Depois de jantar, o Hans-Jürgen e eu fomos à procura da casa dos meus Pais. Como referência, tínhamos…uma fotografia da minha Mãe à porta da sua vivenda. Felizmente, este tipo de vivendas eram típicas das casas dos oficiais e conseguimos que nos indicassem o Bairro dos Quartéis, agora Bairro de Santo António. Só que era noite cerrada, não havia luz e não havia pessoas na rua para perguntarmos. Ainda parámos no quartel mas o soldado que estava de guarda nada sabia. Desistimos e decidimos voltar no dia seguinte.

10º dia do VIII Raid do Kwanza Sul: Fazenda 3 N – Lubango (194 km)

Se para lá tivemos de fazer 80 km até à Fazenda 3 N (Vihua Lodge), de regresso, esses 80 km de pó e “altos e vales” também tiveram de ser repetidos para conseguirmos chegar ao asfalto.
50 km adiante voltámos a sair da estrada alcatroada, para nos voltarmos a meter à picada: 30 km até à Unguéria. Aí chegados, arrumados os jipes em espinha muito ordeiramente, pegámos nos saquinhos com o nosso farnel (uns deliciosos pregos de gnu preparados no Vihua Lodge) e seguimos pelo trilho atrás de quem sabia o caminho.
Chegámos a uns rochedos altos. Nada de quedas de água. Somente um ribeirinho que tivemos de atravessar saltando de pedrinha em pedrinha. Somente ao treparmos para os rochedos, nos deparámos com uma queda de água que caía para um pequeno lado protegido de todos os lados por rochedos. A água chamou-me como sempre faz. Rapidamente despi os calções e deixei-me deslizar por uma pedra muito suave para dentro da água. Estava fantástica, com uma temperatura mesmo convidativa; deixei-me envolver por este elemento que é o meu: a água. Tentei nadar até ao sítio onde a água caía, mas a corrente era forte e fiquei a uns 2 -3 metros.





Reconfortada com este banho refrescante, voltámos aos jipes e partimos por picada
até à cidade de Lubango, ex-Sá da Bandeira, capital da Província da Huíla, e conhecida como a “cidade jardim”, tão bem cuidada era. Segundo podemos ler na Wikipedia, “data de 1627 o primeiro contacto europeu com as terras do planalto angolano. A soberania portuguesa iniciou-se em 1769 com a criação do presídio de Alva Nova. Os primeiros sinais de povoamento europeu são dos bóeres , por volta de 1880. Pouco depois surgiram os madeirenses que, em Janeiro de 1885, fundaram a colónia de Sá da Bandeira”
 Paragem obrigatória no miradouro em frente da serra da Leba onde pudemos observar a famosa estrada serpenteada.
A Serra da Leba é um gigantesco rochedo com uma altitude de 1845 m e com uma inclinação de 1 km e que forma um paredão que divide a região planáltica da Huíla, de altitudes elevadas, para a região desértica do Namibe. Já no século XIX se sentia a necessidade de criar uma estrada que ligasse estas duas regiões para o escoamento e transporte de pessoas e mercadorias. A estrada em serpente cravada na encosta da montanha foi começada a planear em 1915 e terminada em 1969- 1974. Tem 42 curvas e percorre uma distância de cerca de vinte quilómetros. Conta-se que o  general Ferreira D' Eça “ofereceu” milhares de autóctones para ajudar no do transporte de máquinas e de homens, abastecimento, arruamento pesado, munições etc.). A primeira vez que vi esta estrada,  a maior obra de engenharia em Angola de todo sempre, foi a 29 de abril de 1974 durante a minha viagem de finalistas (do Instituto de Odivelas) a Angola – e agora ali estava a vê-la 40 anos.
Antes de irmos jantar ao Casino Olimpia do Lubango, fomos pôr a tralha ao Pululukwa Resort, um aldeamento turístico muito harmonioso com 60 “cubatas”,  implantadas em três “aldeias” com características diferentes, ligadas por longos passadiços, ora em madeira, ora em pedra, e decoradas com imenso gosto e colocadas no meio dum grande terreno onde circulam livremente animais africanos como as zebras, as avestruzes, as gazelas, entre outros. Na língua umbundo, “pululukwa” significa “descanso” - e é precisamente isso que o resort oferece. Propriedade do grupo COSAL, este luxuoso resort pensado ao mais ínfimo pormenor, é um projeto arrojado, implantado numa área com vários hectares, serpenteado por um rio, e pontilhado com vários lagos, em casamento perfeito com a natureza.

O jantar no Casino do Lubango foi muito animado.

sábado, 21 de junho de 2014

9º dia do VIII Raid do Kwanza Sul: Quedas do Ruacaná – Fazenda 3 N (421 km)

Veio-nos cumprimentar ao acampamento o Administrador de Ruacaná, Fernando Hifilenya Naikete,  que trouxe com ele o soba e o líder da comunidade. Nas mãos , o soba trazia uma embalagem tetrapak de vinho tinto!


 O soba é escolhido por consenso pelos mais velhos da comunidade; antigamente a sucessão era feita por linhagem, só os da linhagem do soba podiam ser eleitos sobas. 
Chamou-me a atenção um pauzinho que o soba trazia preso na orelha. Perguntei ao Administrador para que servia (o soba não falava Português). “Para coçar a cabeça”. É claro! Com a pasta de lama seca que usam no cabelo é impossível coçar a cabeça quando têm comichão. Um pauzinho ajuda.
Deixámos o acampamento e fomos ver as quedas de água do Ruacaná. Logo início – e depois mais tarde – uns cornos no chão: um voodoo que foi feito para dar sorte no concurso das 7 Maravilhas de Angola. Infelizmente não resultou. É óbvio que as quedas do Ruacaná nunca iriam ganhar. Como poderia? Não que lhe falte beleza, mas o concurso baseia-se no voto popular. As comunidades pedem o voto às pessoas. Como Ruacaná poderia ganhar se tem pouquíssimos habitantes e a maioria sem acesso à TV, a luz, etc?!



As Quedas do Ruacaná são um conjunto de cataratas e rápidos no  Rio Cunene. A queda principal tem 120 metros de altura e cerca de 700 metros de largura, em cheia máxima. O conjunto constitui uma das maiores quedas de água de África. Devido ao uso da água do rio para a geração de energia, irrigação e abastecimento público, as quedas de água ganham um aspeto mais majestoso durante a época das chuvas. Infelizmente, estávamos na época do cacimbo e assim só vimos um fiozinho de água.
Uns 80 km depois de Ruacaná, paragem em Naulila. Sem sabermos o que nos esperava no percurso, tínhamos colocado na janela do  nosso jipe uma bandeira alemã e uma bandeira portuguesa. A paragem em Naulila foi para vermos um monumento ali colocado em homenagem aos portugueses que morreram no massacre feito pelos alemães, que ficou conhecido como o “Desastre de Naulila” ou o “Combate de Naulila” que teve lugar a 18 de dezembro de 1914. Também ainda existem três campas coletivas alemãs. Como vem descrito em http://www.momentosdehistoria.com/MH_05_01_01_Exercito.htm, de acordo com  Marco Fortunato Arrifes, na sua obra "A Primeira Grande Guerra na África Portuguesa, Angola e Moçambique (1914-1918)", a questão do ataque do posto de Naulila, resultou de uma acção punitiva alemã por causa da situação gerada em volta do incidente de 19 de Outubro de 1914, e apesar de se verificar a existência de deficiências organizativas e materiais, os portugueses conseguiram resistir durante algum tempo. (…) a defesa de Naulila teve falta de direcção e de comando, esforços dispersos que nunca chegam a termo, muito embora a grande maioria das forças empenhadas se tenham batido com energia, tenacidade e valor. (…) A força portuguesa em Naulila dispunha de 400 homens de infantaria europeus, 180 homens de infantaria indígena, 3 peças de artilharia Erhardt e 4 metralhadoras, mais uma reserva de 240 homens de infantaria europeus, 60 indígenas e 2 peças de artilharia Canet. A força alemã do Major Frank compunha-se de 490 homens de infantaria, 150 auxiliares indígenas, 6 peças de artilharia e 2 metralhadoras. O combate foi muito duro e obrigou a uma retirada das forças portuguesas de Naulila para a segunda linha em Donguena.
Seguimos em picada não muito má mas com muito pó até Xangongo, antiga Vila Roçadas, onde entrámos no alcatrão, onde abastecemos os carros. O meu Pai esteve aqui no Forte Roçadas em 1948 e eu queria ver o pórtico estava imortalizado numa foto. Quando Lanucha aqui esteve a comandar este forte, erguido em 1906 na margem direita do rio Cunene, por forças portuguesas sob o comando do então Capitão José Augusto Alves Roçadas, e que serviu como base militar para ataques e ocupação das áreas do sul de Xangongo, o pórtico ainda estava de pé, mas agora já não existe. Como o tempo escasseava, não nos foi possível entrar na vila para ir ver de perto o forte.
Seguimos por alcatrão até ao desvio para a Fazenda 3 N, de Luís e Joca Nunes, situada na Tunda dos Gambos, delimitada pelo Parque do Bicuari. 80 km de picada! Somos porém recompensados quando entramos na fazendo onde foi construído o Vihua Lodge, um complexo hoteleiro de grande conforto onde foram introduzidos animais selvagens importados da Namíbia.
Depois de almoço, fizemos um pequeno safari onde porém só vimos gazelas, gnus, avestruzes e zebras. Mais sorte tivemos à noite. Estando o Hans-Jürgen e eu no economato a ver os nossos emails, chegou o administrador do lodge, o Sr. Leite. Conversámos animadamente e a dada altura e pergunta-nos se tínhamos tempo e queríamos ir ver uma coisa. Resposta afirmativa. Subimos para o jipe. Ele tinha de ir fechar algo e após o ter feito, levou-nos a um safari noturno privativo! Uma girafa pastava calmamente numa clareira. Ao ver as luzes do jipe, foge para a floresta, correndo com harmonia.

Continuámos no trilho e de repente passou mesmo em frente do jipe um enorme gunga ou elã (Taurotragus oryx). Um susto! Gazelas fugiam assim que viam as luzes. Chegámos porém a uma zona sem uma única gazela. Estranho!, disse o Sr. Leite. Parou o jipe, apagou as luzes e apontou a lanterna para a floresta. Lá estava a onça com os seus olhos a brilhar! As gazelas tinham-na sentido e, pura e simplesmente, fugiram para não serem apanhadas

8º dia do VIII Raid do Kwanza Sul: Quedas do Monte Negro – Quedas do Ruacaná (213 km)

De manhã, banho no rio Cunene. Mas banho a sério com sabonete e tudo. No único lugar protegido por troncos onde o jacaré não poderia entrar. Quando nós chegámos estavam ali nesse sítio dois soldados a fazer a higiene matinal. Ao lado havia uma pequena praia; pensei banhar-me ali. Logo os soldados e os locais me avisaram: “Aí nunca. Vem jacaré. É a hora de jacaré aparecer. Só pode mesmo lavar-se ali onde estão os soldados”. Esperei então que os soldados saíssem e entrei eu, qual ninfa ou princesa a banhar-se como nas lendas. Como na história do Gigante-cenoura: “No caminho, viu a filha do rei da Silésia a banhar-se no rio com as suas aias e ficou apaixonado.” (http://www.fnac.pt/Contos-e-Lendas-do-Mundo-Margarida-Pereira-Muller/a83700) Mas não, naquela manhã não passou pelo rio nenhum gigante, nem bruxo. Tomei banho em paz e sossego. Saída do banho, tal como eu casa, limpei-me à toalha e pus a minha loção. Entretanto, foi para o banho o cliente seguinte…

Entre o nosso acampamento e o rio Cunene havia algumas casas do kimbo. E passámos pelo local onde as pessoas fazem os tijolos de terra para com eles construírem as suas casas. Como na canção infantil alemã, „Wer will fleissige Handwerker sehn“: “Stein auf Stein, Stein auf Stein, das Häuschen wird bald fertig sein“ (https://www.youtube.com/watch?v=dt6YqvCylh4).

Como estamos na época do cacimbo, as quedas de água do Monte Negro praticamente não têm água e assim seguimos logo caminho após o pequeno-almoço. A picada continuava de pedra, mas a paisagem já era totalmente diferente. Já não era o deserto puro e duro, lembrava um pouco a savana, já com pequenas árvores.

Ao fim de 100 km chegámos à povoação de Angumbe, onde a caravana parou para fazer alguns donativos para a escola. Como o professor estava a almoçar, os donativos foram entregues junto do moderno posto de saúde ao soba. Os participantes do RAID estavam rodeados de homens e mulheres da tribo herero . Muitas crianças aproximaram-se para ver o que se estava a passar. Aproveitámos então esse grupo de crianças e contei-lhe ali a história guineense do Macaquinho do Narizito Branco (http://www.fnac.pt/Contos-e-Lendas-da-Lusofonia-M-Margarida-Pereira-Muller/a329582), que explica como os tambores apareceram na Terra.

Seguimos viagem até ao Chitado onde procurámos o monumento ao acidente da Força Aérea Portuguesa. A 10 de novembro de 1961, um avião Dakota da Força Aérea Portuguesa, com altas patentes portuguesas a bordo, passou por cima da pista do aeroporto do Chitado a baixa altitude. Levava os motores na potência de cruzeiro, o trem recolhido e bloqueado, pois não pretendia aterrar. De repente, a ponta da asa bateu numa árvore que sobressaía das outras cerca de 15 metros. O avião rodou sobre si mesmo, ficou em voo invertido, caiu, incendiando-se imediatamente. Todos os passageiros morreram.
Duas senhoras da povoação sabiam onde estava o monumento. A pedido do Lanucha, entraram no nosso jipe e levaram-nos lá – as senhoras estavam excitadíssimas de terem falado com o famoso General Lanucha que combateu valorosamente os sul-africanos quando estes invadiram o sul de Angola após a independência.

A cruz posta no local do acidente ainda lá está. A placa com o nome dos acidentados já desapareceu, assim como uma asa do avião que durante décadas ali ficou esquecida no meio da lavra.


A noite já caía e ainda nos faltavam 80 km.  Chegámos a Ruacaná, fronteira com a Namíbia já noite escura. O acampamento foi feito sobre um socalco de cimento. Por causa da escuridão, um participante caiu sobre a quina do cimento tendo esfolado os joelhos até ao osso – valeu-lhe a pronta intervenção da Irene Martins, médica gastroenterologista, que ali virou rapidamente uma fantástica enfermeira a fazer curativos de toda a espécie.

7º dia do VIII Raid do Kwanza Sul: Foz do Cunene – Quedas do Monte Negro (208 km)

A noite foi muito fria, com a temperatura a rondar os 6º C! no entanto, dentro da tenda e do meu saco de dormir, dormi lindamente, de fio a pavio. O despertar foi bem cedo, 
às 5h pois teríamos de chegar a Monte Negro ainda com luz e para os pouco mais de 208 km de hoje iríamos necessitar umas 10 h!
Para evitar demorarmos novamente 2h30 para subirmos a duna da Foz do Cunene, os jipes ficaram quase todos no cimo, só descendo os jipes das malas. Mesmo assim, não conseguimos sair tão cedo como se pretendia. Um jipe chocou com uma pedra, não conseguindo andar nem para a frente nem para trás. Para o libertar demorou-se mais de meia hora. Depois havia que pôr ar nos pneus, pois a picada de hoje não seria de areia mas de pedra. Só que… a saída das dunas ainda era arenosa. Alguns jipes ficaram atolados e tiveram que voltar atrás, tirar um pouco de ar e voltar a tentar. Outros tentaram…. de marcha a ré. O principal era conseguir ultrapassar as dunas.
Tivemos de conduzir com muito cuidado pois a picada era terrível com muita pedra-faca ou pedra cortante, troncos, amontoados de folhas secas. Trata-se de xisto lascado que se espeta nos pneus e logo os rebenta. A região tem grandes lajes de xisto que explodem com a grande diferença térmica entre o dia a e anoite. Ao explodir, partem em inúmeras lascas, pontiagudas (daí o nome de pedra-faca) que são um perigo para os pneus. É claro que com um cenário destes muitos foram os pneus se 

(Foto Katana)
furaram, ou melhor, rebentaram. Alguns ficaram verdadeiras obras de arte.
Voltámos a passar na Espinheira onde parámos numa gruta pré-histórica. Como era Dia de Portugal, o Laureano sugeriu cantarmos o hino nacional – e esta ação ser gravada para as televisões.
De quando em quando um rapaz herrero a guardar as suas cabras ou as suas vacas. A pergunta que sempre fazíamos era como se alimentava o gado, o que poderia comer ali no meio das pedras. Passámos também por famílias, nómadas, que vivem completamente isoladas do mundo. Parámos junto de uma composta por um homem, as suas duas mulheres e quatro ou cinco filhos. Demos um par de chinelos à mulher que ficou feliz; calçou-os, mas… não sabia andar com elas! Demos também uma conserva; sabiam abri-la. Começaram logo a comê-la, usando a tampa como colher. No final, para limpar a boca, baixaram-se, pegaram numa pedra e limparam a boca!
Os hereros são um povo nómada e vivem da pastorícia. As mulheres usam saias feitas com peles de animais, muitos colares de missangas, alguns dos quais amassados com uma pasta feita de raízes aromáticas de árvores e terra que assim evitam que os maus cheiros cheguem ao nariz. O cabelo das mulheres é empapado com uma pasta feita com bosta de boi, raízes de árvores, erva e terra. Os rapazes rapam o cabelo deixando somente uma espécie de penacho no alto da cabeça que é igualmente empapado com aquela pasta e com que fazem uma espécie de corno para cima na parte de trás da cabeça.

O acampamento foi feito num terreno pertence à polícia angolana, muito perto da aldeia. Os aldeãos deviam estar em festa pois do kimbo ouvia-se alta musicata até altas horas.

sexta-feira, 20 de junho de 2014

6º dia do VIII Raid do Kwanza Sul: Foz do Cunene - dunas (242 km)

Hoje o plano era ir à Baía e à Ilha dos Tigres. Mas… a natureza não foi favorável e nem com seguimos lá chegar.
O primeiro obstáculo foi sair do acampamento. Vencer uma diferença de 80 m de altitude em areia foi um verdadeiro desafio para os jipes. Uns conseguiram à primeira (entre eles o Hans-Jürgen – grande condutor TT), outros à segunda, à terceira e outros…. tiveram de ser puxados pelo cabo. Ao fim de 2 ½ horas, todos os carros estavam finalmente na parte de cima da duna. Para quem não estava a conduzir foi um espetáculo ver os jipes a subirem a duna a toda a velocidade… e a pararem atascados no “degrau” antes do cume. Voltavam a deixar descair o carro para tentar de novo.
Todo o percurso foi em areia, primeiro no deserto. Areia dourada a perder de vista. Somente areia, areia, areia. Depois surgiram aqui e além um ou outro arbusto, baixo. Ao longe vimos orixes, chitas, chacais – vimos os que não estava a conduzir. Os condutores tinham de estar bem concentrados na condução. 4H. 2ª/3ª mudança. Pé a fundo no acelerador. Caso contrário era atascanço certo.
Finalmente chegámos à praia, a alguns metros da rebentação. 48 km de praia. O vento era tanto que só se ouvia a areia a bater no carro. Os jipes corriam paralelos à água, velozes para não atolarem. As lagoas, escondidas em manchas de areia escura, escondiam pântanos, um perigo para os jipes: carros que por lá passam, atolam imediatamente por causa das areias semi-movediças.  A inexistência de pista fazia-nos voar constantemente, troços havia que eram uma verdadeira massagem tremidinha….
Quando alcançámos as dunas antes da Baía dos Tigres, fomos forçados a parar. As calemas - alterações que ocorrem periodicamente no nível das águas do mar, causadas pela interferência da força de gravidade, ou seja, com a influência da Lua e Sol, sob o campo gravítico do planeta Terra – tinham cortado o caminho e não havia passagem. Uma hipótese era escalar a duna e depois descê-la – uma aventura desafiante e possivelmente sem final feliz pois o vento era fortíssimo, levantava imensa areia e ninguém sabia em que estado estava a duna.
Enquanto se discutia o que fazer, avistámos ao longe uma família de baleias-piloto. Ou seriam golfinhos? Dali da praia e sem binóculos não era possível confirmar. Mas eram animais felizes, brincando, pulando – enfim, fazendo um espetáculo para nós.
Após uma hora de ponderação, decidiu-se abortar o passeio à Ilha dos Tigres. Grande desilusão, mas nada havia a fazer. O almoço, inicialmente previsto para a Baía dos Tigres, foi no posto fronteiriço da Foz do Cunene, mais abrigado do vento. Uma meia dúzia de casas onde uma mão cheia de soldados guarda a fronteira!

 Entretanto, já passavam das 17h e resolvemos esperar pelo pôr-do-sol, uma espera que valeu a pena. O outro lado da medalha: os 100 km do caminho de regresso foi todo feito à noite!

5º dia do VIII Raid do Kwanza Sul: Namibe – Foz do Cunene (284 km)

Hoje a noite é passada num acampamento diretamente nas margens do rio Cunene. À nossa frente, na outra margem do rio, elevam-se grandes dunas de areia fina e encarniçada, já no lado namibiano. A lua ainda não está cheia, mas com a ajuda dum céu totalmente estrelado, ilumina o acampamento. Apesar de estarmos na época do cacimbo, o rio está com algum caudal e romanticamente ouvimos o marulhar das águas. Estamos a 30 km da foz. Vai ser de certeza uma noite fantástica, diferente.
A chegada foi espetacular – mas algo desorganizada. O deserto do Moçâmedes, agora deserto do Namibe, é tão espetacular como no outro lado da fronteira. Um deserto com várias personalidades, várias facetas. Logo à saída da cidade do Namibe, parámos para prestar homenagem ao antropólogo de origem portuguesa Ruy Duarte de Carvalho que pediu para que as suas cinzas fossem enterradas no deserto, sob um monte de pedras, como tradicionalmente os sobas herreros são enterrados. Este regente agrícola de formação e antropólogo de coração dedicou-se a estudar as várias tribos herrero do Namibe. A sua principal obra, “Vou lá visitar pastores”, está eternizada neste monumento.
Passados alguns km, saímos do alcatrão e entrámos numa pista fantástica através do deserto que nos permitiu andar a 150! Mais velozes do que na autoestrada! A felicidade durou porém somente uns 60 km.  Pedras pequenas soltas, areia, pedra cortante ou pedra-faca (montanhas de xisto com formações exóticas), montes e vales e até um desfiladeiro fizeram com que a caravana de jipes se desorganizasse. Os furos seguiam-se uns após os outros.
Tudo isto não impediu porém que nos espantássemos com a beleza da paisagem. Primeiro um deserto de pedra onde despontavam inúmeras welwitchias miriabilis, incluindo uma de 1,65 m de altura e com um diâmetro de XXX. Estas plantas são endémicas, existindo somente aqui em Angola e na Namíbia. Chegam a ter milhares de anos, sobrevivendo sem água e com sol.

A Welwitschia Mirabilis é uma planta milenar contemporânea dos dinossauros apenas existente no deserto do Namibe, em Angola e na Namíbia. Esta espécie vegetal foi descoberta a 3 de Setembro de 1859 pelo botânico explorador austríaco Frederich A. Welwitsch. A Welwitschia é uma planta da família das gimnospérmicas adaptada à vida nas regiões desérticas. É uma planta de caule de grandes dimensões, com a forma de um gigantesco cogumelo dilatado e côncavo de 50 a 75 cm de altura que parece partida pelo golpe de um machado em tiras. As suas grandes folhas, duras e muito largas, deitadas no chão, arrastam-se pelo deserto podendo atingir dois ou mais metros de comprimento. As suas flores são unisexuadas. Os estames masculinos atingem aproximadamente 6 cm (antenas com 3 divisões) localizam o óvulo estéril envolto pelo periano.
É tão diferente, morfologicamente de todas as espécies botânicas conhecidas, que não se inseria em nenhum dos géneros já descritos pela Ciência. Houve, por isso, a necessidade de criar um género novo, o qual ainda se conserva, como uma única espécie consequentemente.
Passado algum tempo, entrámos então no Parque Nacional do Iona, uma zona protegida com uma superfície de 15 150 km2. Flora muito reduzida, de quando em quando uns burros, umas gazelas, umas cabras, uns nguelengues e uns orixes. Dizem que também ali vivem elefantes, impalas, zebras, onças, leões, avestruzes e rinocerontes. Seres humanos vimos somente dois pastores, mais ninguém.
O almoço foi servido na Espinheira, debaixo dumas grandes espinheiras com uma sombra magnífica. Parecia uma cena tirada do “Out of Africa”: uma comprida mesa com toalha, pratos de porcelana, copos de pé alto. E um enorme panelão de salada de atum e grão.
A paisagem é típica de savana africana. Paisagem a perder de vista, ao longe uns montes, capim amarelo baixo, e junto ao Cunene, umas magníficas dunas. O sol punha-se e a areia ficou com uma cor alaranjada.

Quando chegámos ao acampamento, as tendas estavam montadas, o “restaurante” pronto para receber os raidistas, WCs e duches. Um luxo no meio do deserto.

4º dia do VIII Raid do Kwanza Sul: Namibe

Como hoje a saída foi mais tarde, o Hans-Jürgen e eu pegámos em duas bicicletas do hotel e fomos até à praia apesar de se ter levantado um grande vendaval e uma tempestade de areia. Fomos até à Praia Amélia, uma das muitas belas praias de cidade de Namibe. Passámos pela capela onde as crianças estavam a ter catequese – no regresso, apesar de a igreja já estar fechada, as crianças ali se mantiveram a jogar ao mata – e chegámos à praia onde os pescadores estavam a arranjar as redes. Dois israelitas, que ali trabalham na prospeção de urânio, preparavam a vela do windsurf.

De regresso, contra o vento e contra o relógio, o caminho foi mais difícil. Mas chegámos a tempo. Da bicicleta saltámos para o jipe e partimos para a foz do rio Giraúl, passando pelo porto praticamente abandonado. Como no grupo havia muitos engenheiros, a curta viagem foi uma verdadeira aula de Engenharia Civil, tema: construção de pontes. O rio Giraúl é um potente rio durante a época das chuvas, ficando quase seco na época do cacimbo. Assim o encontrámos, sem conseguir sequer chegar ao mar. Um banco de areia barrava-lhe o caminho, formando uma bela paisagem que nós admirámos do cimo das falésias rochosas. Talvez pelo vento que se tinha levantado, a zona esta a sofrer uma invasão de libelinhas.

A hora do almoço aproximava-se e fomos para o centro da cidade para um bairro de casinhas coloniais onde se instalou Filipa Henriques, tendo ali montado o restaurante Tubiacanga . Desculpe? Tubiacanga ? Isso não é nome de novela brasileira? Certo. Nos anos 90, a novela passava na televisão angolana. A vida de Filipa Henriques estava muito difícil. Ela revia-se naquela novela. E disse: Se algum dia tiver um negócio próprio vou chamá-lo Tubiacanga . Entretanto perdeu o emprego e começou a fazer pastéis e bolas de Berlim. O negócio começou a render e Filipa Henriques abriu uma pequena tendinha no r/ch da sua casa que foi crescendo e crescendo chegando ao restaurante que tem hoje em funcionamento. Ela própria dá formação aos seus empregados, da cozinha e da sala. O almoço que nos serviu foi muitíssimo bom: de lagostas (enormes!) a caranguejo, a calulu de peixe com funge, passando por lulas recheadas e muitas outras iguarias, não esquecendo as sobremesas.

De barriga cheia fomos conhecer o deserto de areia ali mesmo na cidade. Parámos na praia para um refrescante banho, infelizmente só aproveitado por uma meia dúzia de participantes. Às 17h, um pequeno grupo separou-se da caravana e foi até à igreja de Santo Adrião para participar na missa.

A primeira pedra desta igreja foi lançada oito dias antes da chegada da 1ª colónia de Pernambuco (Brasil), em 1849.  A exigência de um templo foi solicitada por Bernardino Freire de Figueiredo Abreu e Castro (chefe da expedição), ainda no Brasil, como condição para a partida. 

Nesta igreja estava reunido um grupo de carismáticos e a missa estava a ser celebrada pelo bispo. Foi uma missa muito vivida, muito intensa que continuou para lá da celebração. À saída, as pessoas juntaram-se no adro e começaram a cantar, a dançar e a louvar o Senhor. É grande a religiosidade deste povo.