sexta-feira, 1 de setembro de 2017

"Realmente" com muita garra e dedicação

Mesmo em frente do Palácio Nacional de Queluz há um simpático bairro de casas antigas, pequenas, em travessas pequenas mas acolhedoras. O Bairro Almeida Araújo, conhecido popularmente como Bairro do Chinelo, é o centro histórico desta pequena cidade às portas de Lisboa, que é conhecida mundialmente pelo seu palácio real. Este bairro mantém as características de aldeia pois está incluído na Zona Especial de Proteção do Palácio Nacional de Queluz, sendo proibida qualquer construção nova.
As primeiras referências ao bairro são de 1757, tendo sido construído para alojar as pessoas que trabalhavam no palácio, assim como diversos artífices. Originalmente as habitações eram de madeira, pedra e cal, mas foram sendo melhoradas ao longo dos anos. Haveria também no bairro uma cavalariça, uma adega e algum comércio, além, claro está, das lojas dos artesãos..
Quem vem de Lisboa e sai da IC 19 em direção ao Palácio de Queluz, vê logo à sua direita uma fonte. Do Chafariz da Carranca, também conhecido por Fonte da Pedra Lavrada, do século XVIII em estilo barroco tardio, sobressai uma cara feia e mal-humorada donde a água brota. Atrás do chafariz, não passa despercebida uma casa pintada de amarelo – o restaurante Realmente.
Pormenor da mesa posta
A família de Cátia Rocha, a proprietária e chefe de cozinha do Realmente, sempre viveu no Bairro
Cátia Rocha, a alma do Realmente
do Chinelo. Ao entrar na idade adulta, Cátia bateu asas de Queluz. Mudou-se para Belas e começou a trabalhar em eventos. Um dia, foi visitar a mãe e soube que o restaurante da casa amarela (à época o Bica de Azeite) ia fechar. Num abrir e fechar de olhos, Cátia decide avançar. Com o apoio da família e de amigos, põe o Realmente a funcionar em meros cinco (loucos) dias! “Foi uma experiência completamente nova, pois ninguém tinha experiência na área. Foi um mergulho no escuro”.
O Realmente, um projeto totalmente familiar, abre portas a 29 de abril de 2014 com uma ementa de essencialmente comida típica portuguesa e de autor, com pratos nacionais mas com toque pessoal como o “Polvo à lagareiro em cama de espinafres”, o “Salmão à Bolhão Pato” (um dos best sellers do restaurante), os “Filetes de pescada com açorda de espargos” ou o “Porco doce com redução de balsâmico”.
Lombo de bacalhau com broa
“Estando em frente de um monumento muito visitado por estrangeiros tínhamos de ter pratos tipicamente portugueses”, conta Cátia Rocha ao “Cadernos de Viagem”. “No entanto, como gosto muito da cozinha asiática, não resisti alguns toques orientais, como por exemplo o atum braseado com sésamo e coentros vietnamitas..
Medalhões de tamboril com manga e romã
Aos poucos, foi introduzindo novos pratos na ementa em combinações bem originais, como os "Medalhões de tamboril com manga e romã", e mais pratos vegetarianos, como “Rolos de papel de arroz com queijo da ilha e rúcula” ou ”Tentúgal de legumes com requeijão e amêndoas”.
A nível de sobremesas, todas feitas no restaurante, Cátia realça a pera cozida em groselha com lúcia-lima que lembra a pera bêbada mas que não é cozida em vinho tinto, e a tarte de maçã com vinho do Porto e, claro, a eterna tarte de amêndoa.
Tarte de amêndoa
Desde o início o mais importante é a qualidade dos produtos. Cátia Rocha confia nos seus fornecedores que até à data ainda não a desiludiram.
Estes três anos e meio de restauração deram novas experiências a Cátia Rocha e à sua equipa. Para o futuro gostaria de desenvolver a parte informal do café, tendo mais clientes locais que vão somente ao Realmente para beber um copo e comer uns petiscos, como por exemplo os deliciosos “Mexilhões salteados com tomate e coentros” ou “Tempura de camarão com sweet chilli e amêndoa”, não faltando a “Farinheira com ovos mexidos”.
A sala de jantar


O Realmente é sem dúvida um restaurante da realeza de produtos e de confecção dos mesmos onde vale realmente a pena ir jantar ou petiscar.